quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Fuga para a vitória.

Uma das histórias mais comoventes e dramáticas da história do futebol, sobre uma equipa de heróis que usou o futebol para derrotar o nazismo, mesmo sabendo que a vitória significaria..


"Tudo começou a 19 de Setembro de 1941, quando Kiev foi ocupada pelos nazis. Nos meses seguintes, a cidade foi arrasada e os seus habitantes não podiam trabalhar nem viver nas suas casas, pelo que vagueavam pelas ruas, na mais absoluta indigência. Entre esses mendigos, doentes e desnutridos, estava Nikolai Trusevich, antigo guarda-redes do Dínamo Kiev.
Ajuda Josef Kordik, um padeiro alemão que os nazis não perseguiam, era adepto de futebol e conhecia o onze do Dínamo Kiev de trás para a frente e vice-versa. Um dia, Kordik carregava o pão pelas ruas quando reconheceu Trusevich. Na ânsia de ajudar o seu ídolo, Kordik deu tecto e comida ao guarda-redes, fintando os nazis, com o argumento de precisar de um ajudante para amassar o pão naquelas madrugadas intermináveis. Na convivência entre ambos, as conversas só giravam à volta do futebol, deste e daquele jogo, daquela ou daqueloutra defesa mais espectacular. Até que Kordik teve uma ideia: em vez de Trusevich perder o tempo a amassar pão, poderia ir à procura do resto da equipa do Dínamo Kiev. Assim foi.
Companheirismo Trusevich percorreu toda a cidade e, além de reunir os outros dez companheiros, também encontrou três do arqui-rival Lokomotiv. Juntos, foram viver escondidos para a casa do padeiro. Só Trusevich estava autorizado a dar a cara aos nazis na padaria. Todos os outros dormiam, comiam e trabalhavam para Kordik sem que ninguém desconfiasse de nada. Reunidos então pelo padeiro, os jogadores não demoraram a dar o passo seguinte e formaram uma equipa. Como o Dínamo era passado, nasceu o FC Start, que, através de contactos alemães, começou a desafiar equipas de soldados inimigos e selecções formadas pelo III Reich.
Bola a rolar A 7 de Junho de 1942, o primeiro jogo. Apesar de cansados pelo trabalho invisível na padaria, durante toda a noite, o FC Start goleou 7-2. No encontro seguinte, 6-2. Depois, 11-0 a uma equipa romena, para destoar dos alemães. A coisa ficou séria a 17 de Julho, quando despacharam uma selecção do Exército alemão por 6-2. O grupo já começava a ganhar demasiada fama e a incomodar os nazis, que contrataram uma equipa húngara com a missão de acabar com a invencibilidade dos empregados da padaria. Mas o FC Start goleou novamente (5-1). Na desforra, novo triunfo (3-2).
Agora a doer Em Agosto, no dia 6, os alemães chamaram os membros da Luftwaffe, uma grande equipa utilizada como instrumento de propaganda de Hitler. Mais agressivos que nunca, os alemães saíram vergados por uma clara derrota por 5-1. Foi aí que Berlim tomou conta da ocorrência e decidiu exterminar o FC Start, incluindo o padeiro alemão. Mas só fuzilariam os russos após a derrota destes, porque os altos dirigentes do III Reich acreditavam que o gratuito acto de assassinato não faria outra coisa além de perpetuar a derrota alemã. Por isso, Berlim organizou um outro jogo, a 9 de Agosto, no Estádio do Zenit.
Antes do jogo, um oficial da SS entrou no balneário e disse em russo: "Vou ser o árbitro. Respeitem as regras e levantem o braço." Já no campo, os jogadores do FC Start, camisa vermelha e calção branco, levantaram, de facto, o braço mas em vez de dizerem "Heil Hitler", gritaram "Fizculthural", uma expressão soviética que proclamava a cultura física. Os alemães, de camisa branca e calção preto, marcaram o primeiro golo mas sofreram dois até ao intervalo. Novamente nos balneários, um outro oficial da SS ameaça os russos: "Mesmo que ganhem, serão fuzilados." Os jogadores olharam uns para os outros e chegaram a desanimar, mas pensaram nas suas famílias destruídas pelos nazis e nos gritos dos adeptos das bancadas e voltaram ao campo... para vencer 5-3. No último minuto, o avançado Klimenko isolou-se, fintou o guarda-redes e, com a baliza aberta, deu meia volta e chutou a bola para o seu meio-campo, num gesto de desprezo, de superioridade total. O estádio veio abaixo.
Os alemães nada fizeram e deixaram os russos sair. Inclusivamente, o FC Start jogou três dias depois e goleou 8-0 o Rukh. Mas o final já estava traçado, e a Gestapo visitou a padaria para destruir pela segunda vez o Dínamo Kiev. O primeiro a morrer torturado foi o padeiro Kordik. Os demais (à excepção de Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia) foram enviados para campos de concentração e acabaram todos por morrer, incluindo o guarda-redes Trusevich, fuzilado vestido à FC Start.
Dínamo e Zenit Ainda hoje, os espectadores que viram o penúltimo jogo do FC Start, o tal ganho à equipa dos nazis, têm entradas gratuitas nos jogos do Dínamo Kiev. Nas escadarias do clube, vê-se um monumento que saúda e recorda aqueles heróis do FC Start, os indomáveis heróis de guerra do Exército Vermelho, aos quais ninguém pôde derrotar durante uma dezena de históricas partidas, entre 1941 e 1942.
Na Ucrânia, os jogadores do FC Start são hoje heróis da pátria e o seu exemplo de coragem é ensinado nas escolas, como o hino nacional, o alfabeto e as cores. No Estádio do Zenit, uma placa enorme diz "aos jogadores que morreram com a cabeça levantada ante o invasor nazi".
Esta é a história da "Partida da Morte". John Huston inspirou-se nela para fazer o "Fuga para a Vitória" e alterou o final, com empate (4-4) e invasão pacífica de campo para permitir a confusão que permite a escapada dos prisioneiros. Pena que, nesse caso, tenha só sido ficção..." in 'ionline'

1 comentário:

  1. Por acaso esta história tem algo a ver com o Marítimo?
    LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL

    ResponderEliminar