terça-feira, 25 de março de 2014

"Povo de Merda!"

Tenho de começar por dizer que pensei muito no título a dar, mas que depois de recordar alguns factos do jogo de Sábado, este foi o ideal e apropriado para aquilo que aqui vou descrever.

Sendo eu da ilha de Porto Santo e sócio do CS Marítimo, é natural que em 15 jogos caseiros, o número total de jogos a que assista nos Barreiros não sejam de facto muitos, mas sempre acontecem. Foi o caso deste Sábado na recepção ao Sporting.

Sendo este um jogo tipicamente mobilizador, estranhei, mesmo depois das críticas da massa associativa, a presença de adeptos do Sporting na lateral sul. Julguei eu que apenas a central era penetrável. Inocência a minha. Mas já lá vamos. A caminhada começa no Dolce Vita de cachecol do Irredutível ao pescoço pelas 16h00 para lado nenhum. Dar umas voltas pelas ruelas do Funchal, reviver os tempos em que vivia na capital da Região e ver o que se encontrava, era esse o objectivo antes de apanhar o 8 que passa nos Barreiros.

Não foi preciso andar muito já que o desejo de passar pela Rua da Carreira estava condicionada. Concentração de continentais e madeirenses para marcharem de bandeiras em punho até ao estádio. Não era lá muito boa ideia arriscar passar ali. Sentimento estranho para quem está em casa. Mudança de planos e descida até ao Jardim Municipal. Tudo calmo, a rotina típica funchalense. Os taxistas passaram a atirar resultados para o ar assim que passei e demorei até à Sé para encontrar alguém equipado a rigor para o jogo. Irremediavelmente, era todo verde e a pronúncia não dava margem para dúvidas, era madeirense.

O tempo foi passando e não havia mais tempo a perder, era hora de apanhar o de Sta. Quitéria para os Barreiros. A opção na altura foi caminhar até à "casa da luz" onde começa o trajecto. Conforme me aproximo da paragem percebo de imediato que ia ser estranho. Uma dezena de alfaces bem identificadas, "JL 76". Teria que ser; andar uns minutos de autocarro não poderia ser assim tão mau, tirando as bocas e o incómodo de ser o único de cachecol do CSM àquela hora em dia de jogo a caminho do estádio. As bocas não aconteceram, mas o incómodo ficou. Mas não posso deixar de retratar duas almas na paragem de cachecol do Sporting num canto. Estava ali a malta lisboeta no seu ambiente animado e aqueles dois, visivelmente acabados de sair das aulas com um cachecol, cujos adeptos "genuínos" não lhes ligavam nenhuma. Mas porque lhes haveriam de lhes ligar? A familiaridade existente entre adeptos genuínos vindos do continente não acontece por alguma razão. O pior é que eles ainda identificam-se com aquilo.

Feito o percurso até aos Barreiros e satisfeito por ter chegado, vou logo para perto do estádio, mesmo a jeito de uma imperial na carrinha do Esquadrão. Ao descer do autocarro e seguir marcha, vem de baixo em direcção aos Barreiros os tais da Rua da Carreira. Insultos, "manguitos" e mais alguma coisa por parte de um marreco. Pequeno pormenor, era madeirense e o amigo que acompanhava o moço chama-o à razão. Tinha estado com o rapaz sensato na noite anterior na discoteca, provavelmente com quem insultou também. Aquele momento fez-me pensar que aquele rapaz sentia-se o maior do mundo por transportar aquela bandeira de 3 metros com toda aquela gente atrás. Na realidade, reagir não era a melhor opção e a cerveja caiu bem logo depois.

Depois de andar de um lado para outro meto-me na conversa com sócios mais velhos que eu. A conversa logo puxou o interesse de outros. Estavam a ver o número de associado e logo vieram as lembranças dos jogos do passado. Muito antes de eu ter nascido. Tanto distraí que não dei de conta que estava a ir pela ala direita da central de acesso ao estádio. Pelo meio ainda vi um rapaz a entrar pela ala esquerda com o cachecol do Irredutível.

Depois de me aperceber do erro após várias tentativas com o cartão a dar erro, volto para onde deveria e entro pela porta correcta da lateral sul. Espanto-me em ver que à minha frente estavam a ser revistados pela polícia duas pessoas trajadas à Sporting e disse bem alto: "Até aqui?"

Pensei logo, não vai dar certo. Mas preocupei-me em arranjar o melhor lugar para ver o jogo. Depois apercebo-me que de facto vai entrando adeptos do clube continental. Os Fanatics iam entrando pouco a pouco e já se faziam notar mesmo antes do jogo começar. Se existe gente que demonstra e defende aquilo que sente pelo Marítimo são aqueles rapazes. O Esquadrão bem ou mal ia apoiando. À porta de acesso da sul tinha mais um grupo pequeno que de vez em quando puxava pelo Marítimo. Pergunto-me porque não se juntam todos. O que é preciso para que se juntem e se façam notar com maior expressão?

Caso grave que neste grupo já foi discutido pelo Irredutível foi o facto do próprio colégio do Marítimo não "desincentivar" o interesse dos seus alunos pelos outros. Alguém revoltou-se pois no meio dos alunos presentes nos Barreiros estava um de cachecol alheio ao pescoço. Reparei que alguns pais presentes olharam com estranheza aos insultos, mas pensei que aquilo estava certo, rejeitando que o facto daquela brutidade seria demasiado para a inocência daquelas crianças. Mas que algo tem de mudar, tem.

Quanto ao jogo em si não há grandes coisas a apontar à equipa para além daquilo que temos visto e dito. Festejar o golo do Weeks foi qualquer coisa de fenomenal. Imaginem que é diferente para quem está habituado a ver na TV ou a ouvir na rádio. Quanto aos golos do Sporting, a cada golo sabia bem que aquela gente ouvisse os cânticos entoados de "Povo de Merda!". Eles sabiam porquê, mas fingiam nem ouvir.

Afinal de contas vem de costumes. Ou o rapaz do colégio do Marítimo com cachecol do Sporting sabe que o Marítimo ou mesmo o Nacional são da Madeira e representam a Região em Portugal e na Europa?

"Povo de Merda!"