segunda-feira, 12 de março de 2012

"O senhor dos anéis" - Artigo de opinião

"Foi um azar do caraças aquele que caiu sobre o timing de construção/ remodelação do Estádio dos Barreiros para o C. S. Marítimo. Azar e não só, pois muita pedra foi deitada sobre o projecto e sobre a ambição maritimista, de cujos escombros, agora, está complicado sair. 
Se quisermos ser honestos e coerentes, foi apenas a actual direcção do Marítimo, que iniciou funções em 1997, que teve o objectivo de construir património físico para o clube, coisa com que os anteriores elencos nunca se preocuparam. Já então outras colectividades tinham as suas infra-estruturas feitas ou a caminho de uma conclusão, recordando que foi uma colectividade quase familiar (CAB), numa modalidade pouco expressiva entre os madeirenses quem primeiro usufruiu dessa benesse, ao contrário, por exemplo, do andebol, a segunda modalidade com mais praticantes regionais a seguir ao futebol que, ainda hoje, vive no velhinho pavilhão do Liceu. 
Mas, no princípio deste século, o Marítimo lançou a ideia, consubstanciada na remodelação do antigo peão dos Barreiros, com camarotes e zona comercial de interesse e rentabilidade para os clubes que lá jogavam (Marítimo, Nacional e União), ideia essa logo ostracizada por quase todos os quadrantes. O Nacional escapar-se-ia para a Choupana, onde construiu o seu actual complexo desportivo, e o União já havia arrancado com o projecto na Camacha, hoje inacabado. Tudo com a complacência do executivo regional. 
Ficou o Marítimo, que procurou, e legitimamente, o seu espaço, que a história e expressão regional que ostenta fazem jus. E, desde então tem sido um calvário. Desde o RG3, passando pela PREBEL e pela Praia Formosa, acabando nos Barreiros, é o que se vê. E, contrariando o que alguém escreveu, o Marítimo não reivindicou os Barreiros, foi o governo regional que o impôs. Com avanços e recuos. 
Naturalmente que, nesta desgraça toda que a região e o país atravessam, o acabamento do estádio, mesmo o dos Barreiros, não se pode sobrepor à saúde ou à educação. Ninguém quer isso. Mas, tal como na mitológica obra de J. R. R. Tolkien, vive-se numa ilha mítica em que a megalomania, desde há muito, tomou conta dos espíritos de um povo dito superior. Por isso, dá vontade de rir quando ainda se lê e se ouve os humanóides que rodeiam o senhor dos anéis, eles que viveram sempre numa ilha de fantasia, virem agora armados em arautos da verdade e da sabedoria. 
Dá vontade de rir. Só isso. 
P.S. É uma pena um dos melhores Marítimo de sempre jogar num estaleiro parado. É pena, para equipa e para os seus adeptos. Com prejuízos evidentes." Emanuel Rosa 

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