terça-feira, 22 de novembro de 2011

A mentalidade portuguesa.

Vale a pena ler até o fim. É sobre o Santa Clara, mas poderia ser sobre qualquer outro clube português, e demonstra aquilo que nós também sentimos por cá. 
Quando o jogo com o Benfica se aproxima, este texto deveria servir de reflexão a muita gente que se diz madeirense.  

"No passado domingo, levantei-me em sobressalto e munido de um nervoso miudinho que não me permitiu beneficiar daquele calor dos lençóis e dos edredões que tanto nos conforta, principalmente ao fim-de-semana.
Claro que não haviam razões para tanto alarido, afinal aquele era um domingo igual a tantos outros, não fosse o facto de o Santa Clara jogar a segunda-mão da segunda fase da Taça da Liga, na Marinha Grande. 
Seria esta uma razão plausível para tanta agitação numa altura em que temos tanto para nos preocupar? Valerá a pena perder o sono por futebol? Ambas as questões ecoavam na minha cabeça, mas o que é que querem, o futebol ainda vai sendo, a par da família (o mais importante), das poucas coisas que me vai dando alegria. Acrescente-se a isto o facto de ter emprego, coisa que muitos portugueses já não podem dizer, e estão reunidas condições para que ainda possa sorrir.
Na Marinha Grande, o Santa Clara jogava muito mais do que uma simples partida de futebol. Os encarnados tinham a possibilidade de escrever mais uma página de ouro na sua já longa história ,.., Com o passar das horas, a ansiedade foi aumentando, alimentada pelo desejo de que o jogo começasse para que se pudesse confirmar a passagem para outro patamar, para aquele em que já marcarão presença os ditos “grandes” do futebol português, local em que aliás, defendo, o Santa Clara deveria sempre estar ,.., Até agora, pelo que me é dado a ver, o percurso para alcançar o topo tem sido bem feito. Com moderação, com contenção de despesas, apostando em jogadores jovens que pretendem alcançar um “lugar ao sol”. Só assim poderemos regressar à Primeira Liga, não cometendo as loucuras de um passado bem recente e com a certeza de que um dia que lá cheguemos estarão reunidas as condições para lá ficarmos por muitos anos. 
Voltando a domingo, devo dizer que foi uma hora e meia de jogo de nervos, sempre com os ouvidos no rádio, sofrendo por fora, de longe, algo que ainda custa mais, custa muito mais. No final, a ansiedade deu lugar à satisfação, ao regozijo e ao orgulho. O Santa Clara tinha conseguido, com algum sofrimento, mas também com muita justiça, um apuramento inédito. 
Todavia, no meio de tudo isto, comecei também a escutar algumas conversas menos próprias, muitas vindas de adeptos que, certamente, são tudo menos pessoas que gostam e defendem os encarnados. Ouvia: “agora sim vou ao Estádio de S. Miguel. Oxalá fiquem no grupo do Benfica, para que possa ver o ‘glorioso’, o Jesus, o Saviola, entre outros”, ou então “bom é que fosse o Porto. Ia ser uma romaria da Calheta para o estádio”, e até “óptimo era apanhar o Sporting.” Pensei: como é possível?! Esta gente não quer ver o Santa Clara, não quer puxar pelo clube açoriano, quer sim ver aqueles que idolatra, semana após semana, através da televisão. Pois bem, é isto mesmo. Há açorianos, e micaelenses em particular, que não merecem este Santa Clara, nem qualquer outro que conquiste páginas de ouro para a história da região. Assim se percebe como, a cada jornada da Liga Orangina, o Estádio de S. Miguel apresenta uma deplorável moldura humana. A estes, bem a estes, até defendo que se barre a entrada no recinto, ou então que se pratiquem preços de bilheteira que lhes obriguem a pagar “couro e cabelo” para irem torcer pelos outros. Desculpem-me, mas penso que seria o mais sensato. Quando um açoriano não defende o que é seu, independentemente do seu clubismo, não está a prestar um bom serviço à Região." 
Pedro Botelho - Director do Santa Clara

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