quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Tutti-frutti, ser ou não ser


Ainda que bem distante da dúvida existencial que assombrava Hamlet, será que é possível apoiar o Marítimo e, simultaneamente, torcer pelo sucesso de Benfica, Sporting ou Porto? Ser ou não ser verde-rubro, eis a questão!

Em primeiro lugar, há que identificar o processo de identificação do adepto com um determinado clube, e reconhecer que esse fenómeno sofreu, nas últimas décadas, grandes alterações. Até ao início dos anos 90, a maioria da massa adepta dos clubes era construída através de identificação local e regional, ou seja, quem nascia ou vivia na Madeira era adepto de um clube da Região, quem nascia ou vivia no Algarve seria adepto de um clube dessa região. Na verdade, os clubes assumiam-se como extensões naturais das regiões ou localidades em que tinham origem, juntando o orgulho no clube com o orgulho local ou regional, o já referido "local pride".

A partir dos anos 90, o paradigma de identificação do adepto com os clubes mudou radicalmente, agora esse processo é ditado pela exposição mediática, ou seja, pela quantidade de capas de jornal, reportagens na televisão ou programas de rádio. Ora, se por um lado o futebol ganhou com este renovado interesse dos media, por outro, essa vitória viria a revelar-se uma derrota para os clubes mais pequenos, que viram o seu espaço mediático condicionado por exigências económicas, e reduzidos a meros figurantes, num filme com apenas 3 actores principais.

Assim nascem os "tutti-frutti", adeptos de cor indefinida, vítimas da ditadura imposta pela comunicação social, que durante 28 jogos parasitam entre dois clubes, mas chegada a hora da verdade, marcham estádio adentro, equipados a rigor e prontos a festejar a derrota do Marítimo. Não tenham dúvidas, estes adeptos mercenários são o maior desafio que o Marítimo enfrenta, a maior ameaça à sobrevivência do futebol, já que para eles tudo se reduz e gravita à volta de 3 clubes, ignorando 100 anos de herança histórica, cultural e desportiva. Por tudo isto, nós, adeptos irredutíveis do Clube Sport Marítimo deixamos bem claro: Ou estão connosco, ou estão contra nós!

6 comentários:

  1. Nem mais, ou se assumem como maritimistas todos os jogos do campeonato, ou então que nem apareçam no estádio o ano inteiro! Eu tenho orgulho em ser maritimista a 100% e quem não tiver esse orgulho como eu o tenho, então nem renovem as quotas! O que o marítimo precisa é de adeptos que apoiem incondicionalmente o maior clube da região, só assim pode alcançar todos os objectivos a que se propõe e não é com falsos pagãos que o marítimo irá sobreviver! FORÇA MARÍTIMOOOOOOOOOOOOOOOOOO!

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  2. Não concordo quando diz que o fenómeno "tutti-frutti" começou na década de 90. Na Madeira, esta tedência é muito mais antiga e iniciou-se devido à impossibilidade das equipas madeirenses participarem nos campeonatos nacionais. Nessa altura era normal ser do Marítimo e de uma equipa do continente, afinal de contas eram equipas de campeonatos diferentes e não eram adversários.
    Digamos que essa "tradição" mantém-se, pois infelizmente os mais velhos preferem passar aos mais novos uma suposta mistica do seu clube do continente do que a verdadeira mistica maritimista.
    Muitas vezes associamos esta traição à juventude, mas penso que os mais velhos são os principais culpados e até são estes que mudam mais facilmente de camisola.
    Se olharmos para os adeptos que vão a todos os jogos do Marítimo, veremos que a grande maioria são jovens ao contrário da ideia que se passa muitas vezes. O pessoal de meia idade e mais velho prefere ficar em casa a ver jogos de espanha e do rectângulo!

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  3. Esta história do tutti-fruti já vem muito antes do ano assinalado no texto. Exemplo disso, foi o que já referiu o anónimo que comentou anteriormente. Um outro exemplo flagrante desta vassalagem vem já dos tempos do Sr. Alexandre Rodrigues, esse Sr. (com todo o respeito que me merece, pois foi um grande maritimista) chegou a receber uma comitiva do Benfica com pompa e circunstância, isto tá documentado em videos da história do CSM. Portanto é uma mentalidade muito antiga e que muito dificilmente se irradiará do futebol madeirense e português, o melhor a fazer é emigrar para Inglaterra.

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  4. Não creio ter começado na década de noventa, já vem dantes. Mas a partir daí o fenómeno agravou-se, com a "SPORT TV" a ajudar muito, e o que acho que aconteceu foi que as pessoas antes ainda tinham algum respeito, alguma vergonha na cara, hoje não. Levam as camisolas e cachecóis desses clubes, festejam os golos e acham que merecem ser respeitados, acham a coisa mais normal do mundo. E não é, garanto-vos que não é.
    Uma viagem a Guimarães faria muito bem a esta gente.

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  5. Os tutti-frutti a que me refiro, em específico, nascem nos anos 90, fruto do "boom" de cobertura que o futebol passou a ter da comunicação social. Agora, o fénomeno, no seu sentido mais lato, é bem mais antigo, como muitos de vós apontaram.

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  6. A situação é bem mais complexa do que vocês descrevem.

    Pode haver aquele biclubista (ou até mais plural) que siga todos os os jogos do Marítimo com GARRA e que quando chegue o seu Porto/Sporting/Benfica mude de cor e atitude nos Barreiros... Mas existem muitos que não o fazem. Têm respeito mutuo pelos dois clubes. Deverão ser desrespeitados? Grande parte (senão mesmo a maior parte) dos associados dos seus clubes simpatizam com um dos grandes. Mas isso não quer dizer que alguma vez estejam desrespeitando o seu clube local, e de onde são mesmo associados e não meros simpatizantes de um ou outro (há gente que torce por mais de dois clubes).

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